O que colegas psicólogos me perguntam sobre agenda e consultório.

“Lorena, você lotou sua agenda com Instagram?”

Hahaha, não.

Mas foi depois do on-line, redes sociais, essas coisas?”

Não, atendo on-line e faço algum conteúdo digital somente a dois anos, mas atendo em consultório desde 2013. Ah, uma vez eu tive um blog cheio de textão, mas acho que nem minha mãe leu.

“É que você trabalha em muitos hospitais, foi pelos encaminhamentos que a psicologia hospitalar proporciona!” (Notem, é uma afirmação)

Então amiga, na verdade não. Esse negócio de ser psi hospitalar e chover encaminhamento é mito! Não caia nessa.

Você estuda muito, foi isso né?

Sim e não. Calma! Sim, eu estudo, tenho duas especializações e diversos cursos independentes, estudar sozinha também faz parte. Mas veja, tem muita gente boa, estudiosa e de currículo comprido com agenda vazia, né? Então não, estudar muito não é sinônimo de sucesso no consultório.

“Humm, entendi, você atende convênios!” (Mais uma afirmação)

Não atendo, mas já atendi. Era do plantão (hospitais) para as clinicas/ambulatórios até as 22h! Isso umas três vezes na semana, por uns dois, quase três anos. Foi com a grana dos convênios que paguei minhas primeiras supervisões. Maaaas, o convênio só me deu agenda cheia enquanto eu estava lá, o que sobrou dessa época foi MUITA experiência e manejo clinico, mas agenda cheia não.

“Mas então me conta! O que fez para dar certo no consultório? Você não pode contar? É sigiloso? Antiético?”

- Claro que posso contar! A ética do sigilo é para conteúdo de sessão, da minha vida eu posso falar o que eu quiser. Então se prepara que lá vai o grande segredo...

Foi tudo isso junto! Cada coisa na sua hora, um passo de cada vez, mas sempre acreditando, estudando e TRABALHANDO. Eu sei, parece complicado, mas na verdade é simples, só não é fácil.

Após esse diálogo, não necessariamente com essas palavras, dois tipos de respostas costumam prevalecer. A primeira é algum comentário ainda insistindo para saber qual foi a mágica realizada para viver do consultório e neste caso, eu apenas ignoro!

Mas a segunda resposta que prevalece, eu dou mais atenção e é mais ou menos assim...

“Parabéns Lorena, que legal, admiro você, mas no meu caso, não sei não se vai dar certo, acho que não consigo”

Pessoa, eu também não sabia se ia dar certo, só tive coragem para tentar. E sabe o que me ajudou muito? Psicoterapia! Esse negócio que você acha maravilhoso, mas vive dizendo que infelizmente as pessoas não buscam e por isso você vai desistir da psicologia.

Mas aí eu te pergunto: e você colega psi, valoriza? Investe na sua psicoterapia pessoal? Já pensou em tentar de verdade?

Não é obrigatório pelo CRP, tão pouco ilegal perante a lei. Ou seja, se você optar por não investir no seu processo pessoal de psicoterapia ninguém tem absolutamente nada a ver com isso.

Mas se você está aqui, lendo meus pensamentos, me permita ser honesta com você em três pontos...

1. Eu não acredito em psicólogos que não passaram por um profundo processo de psicoterapia pessoal.

2. Além da técnica que obviamente é imprescindível, também é preciso ter coragem de ser você no mundo e para o mundo. E aí sim, ousar ser capaz de trabalhar isso em outro alguém.

3. Mentira, na verdade o ponto anterior não é PRECISO, pois não é obrigatório - só que o contrário não costuma dar muito certo.

Veja bem, isso não é a verdade absoluta sobre as teorias da personalidade na pós modernidade através de um estudo randomizado duplo cego, é só a minha opinião mesmo!

E acho que ainda cabe uma informação bem importante...

Rede de apoio! Eu sai de casa com 18 anos e fui financiada pelos meus pais durante a faculdade e no primeiro ano de formada. Eu até fiz vários estágios remunerados e iniciação científica com bolsa, mas eu devia ganhar, sei lá, uns 5% do que eu gastava para viver, estudar e dar uns rolês.

No primeiro ano de formada uns 15% da vida era o máximo que eu dava conta de bancar. Eu não tinha um emprego tipo CLT e o consultório era às moscas, devia ter uns 5 pacientes de tabela social. Somente com 1 ano e quatro meses de formada assumi 90% dos meus gastos, foi quando entrei no primeiro hospital. Mas dar conta de tudo mesmo, 100%, foi após 2 anos e meio de formada.

Foi quando financeiramente falando, segui solo, mas sempre com muito apoio e suporte familiar. Ou seja, oportunidades não me faltaram, né? Sem essas oportunidades e privilégios, não seria impossível, mas seria obviamente muito mais difícil e certamente com inúmeras diferenças no caminho.

De qualquer forma, mágica eu garanto que não foi! Trabalhe e acredite em você, não espere que ninguém faça isso se você não fizer primeiro. E psicoterapia bem feita ajuda muito na carreira profissional e autoconfiança, você sabe!